undefined
undefined
Ixabel

Ah! querem uma luz melhor que a do Sol!
Querem prados mais verdes do que estes!
Querem flores mais belas do que estas que vejo!
A mim este Sol, estes prados, estas flores contentam-me.

Alberto Caeiro (heterónimo Fernando Pessoa)
| edit post
undefined
undefined
Ixabel


Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, aqui estou!
(...)
Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.


Fernando Pessoa - O Guardador de Rebanhos (V)
| edit post
undefined
undefined
Ixabel
(...)
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
.
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto.
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.


Alberto Caeiro O GUARDADOR DE REBANHOS (IX)
| edit post
undefined
undefined
Ixabel


Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo.
Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...

Alberto Caeiro, em "O Guardador de Rebanhos", 8-3-1914
| edit post
undefined
undefined
Ixabel

O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...


Alberto Caeiro, em "O Guardador de Rebanhos", 8-3-1914
| edit post
undefined
undefined
Ixabel

Tão cedo passa tudo quanto passa!
Morre tão jovem ante os deuses quanto
Morre!
Tudo é tão pouco!
Nada se sabe, tudo se imagina.

FERNANDOPESSOA
Odes de Ricardo Reis, 3-1-1923
| edit post
undefined
undefined
Ixabel
(...)
As férteis flores em nossos jardins
Precisam do refúgio de bosques ou muros,
Mas tu, embaixo do abrigo do acaso,
De terra ou de pedra,
Adornas o seco restolhal,
Recôndita e solitária.
Idem
| edit post
undefined
undefined
Ixabel
(...)
Vil, modesta flor de rubra corola,
Comigo deparaste em má hora;
Quando na terra acabo de esmagar-te
E a tua fina haste:
Agora supera as minhas forças poupar-te,
Oh, linda jóia.

poesiacontraaguerra.blogspot.com
Fonte: Burns, R. 1994. 50 poemas. RJ, Relume-Dumará.
Poema – cujo subtítulo é “Ao revirá-la com o arado” – originalmente publicado em 1786.
| edit post